domingo, 20 de dezembro de 2009

RELATO DA 11ª E 12ª OFICINA

No dia 23 de outubro de 2009, nos turnos tarde e noite, realizamos mais duas oficinas do Gestar II.
Num primeiro momento, fomos recepcionadas pelas professoras formadoras de Língua Portuguesa e Matemática - Daiana e Adriana, bem como pela Secretária da Educação de Humaitá, senhora Marli Sandri, coordenadoras pedagógicas professora Marisa e professora Teresinha (popular Tere), que realizaram conosco uma Dinâmica de Boas Vindas.

Após as boas vindas, recebemos uma palavra para falar sobre ela (superação, expectativa, trabalho em equipe, aprendizado, autonomia, disciplina, harmonia, motivação, criatividade, persistência, confiança, determinação, liderança), e em seguida tivemos que compartilhá-la com um colega. Depois reunimo-nos com outra dupla para relacionar o sentido da palavra com o Programa do Gestar II.
Continuando, assistimos o vídeo “Sapateado e Liderança” e procuramos relacionar com as palavras que nós havíamos trabalhado e elaboramos um comentário sobre o Gestar empregando as palavras do grupo.
O meu grupo era constituído por mim, pela Secretária de Educação Marli e pelas professoras Terezinha e Marisa, juntas elaboramos o seguinte parecer:
“Precisamos de harmonia, persistência e criatividade para desenvolvermos os objetivos propostos pelo Programa Gestar, visando superar as expectativas. Com isso, temos alcançado muito mais sucesso em nosso trabalho e consequentemente a felicidade”. (Luciane, Marli, Terezinha e Marisa)
Trago também os pareceres de algumas colegas:
“O trabalho em equipe requer disciplina, organização, confiança e liderança”. (Anita, Noemia, Inês, Clara, Mirtes e Maria Cristina)
“Trabalho em equipe, superamos dificuldades, mobilizando harmoniosamente e exercendo o papel de liderança”.(Adriana, Cecília,Lisandra e Janice)
“É necessário haver disciplina e autonomia para determinar um aprendizado”. (Jurema, Isolde, Lisete e Nair)
Concluída a dinâmica, os professores de Matemática continuaram seus trabalhos separadamente.
Para introduzir a discussão sobre as variedades lingüísticas a professora formadora Daiana fez a leitura do texto: ”Retrato de velho” de Carlos Drummond de Andrade. (Tp1 – p.14)’.
A discussão sobre o mesmo foi muito interessante, pois possibilitou-nos refletir sobre as inter-relações existentes entre Língua, Cultura e Sociedade, permitindo-nos rever alguns conceitos, tais como:
A língua é, ao mesmo tempo, a melhor expressão da cultura e um forte elemento de sua transformação.
A língua tem o mesmo caráter dinâmico da cultura.
A língua tem regularidades, um sistema a ser seguido. Mas, como é um sistema aberto, a língua oferece inúmeras possibilidades de variação de uso, que criam, junto com o contexto, interações sempre novas e irrepetíveis.
É muito interessante observar as diferenças existentes entre o Português de Portugal e o Português Brasileiro, feita pelo escritor Millôr Fernandes no texto a seguir:
Texto escrito no português de Portugal:
“Estava a conduzir meu automóvel numa azinhaga com um borracho muito gira ao lado, quando dei com uma bossa na estrada de circunvalação que um bera teve a lata de deixar. Ecapei de me espalhar à justa. Em havendo um bufete à frente convidei a chavala a um copo. Botei o chiante na berma e ornamos ao criado de mesa, uma sande de fiambre em carcaça eu, e ela um miau. O panasqueiro, com jeito de marialva paneleiro, um chalado de pinha, embora nos tratando nas palminhas, trouxe-nos a sande com a carcaça esturrada (e sem caganitas!) e, faltando-lhe o miau,deu-nos um prego duro.”
Texto traduzido para o português do Brasil:
“Eu dirigia meu carro por um caminho de pedras tendo ao lado uma gata espetacular, quando vi um lombo na estrada de contorno que um escroto teve o descaramento de fazer. Por pouco não bati nele. Como havia em frente uma lanchonete, convidei a mina a tomar um drinque. Coloquei o carro no acostamento e pedimos ao garçom sanduíche de presunto com pão de forma eu, e ela sanduíche de lombinho. O gozador, com jeito de don Juan bicha, muito louco, embora nos tratando muito bem, trouxe o sanduíche com o pão queimado (e sem azeitonas!) e, não tendo sanduíche de lombinho, trouxe um de churrasquinho duro.” (Millôr Fernandes)
Nesta oficina, também realizamos algumas atividades práticas do AAA1 - “A gíria” – p.24 e “Uma crônica bem humorada” p. 41, 42.
Depois a professora Daiana fez a leitura do texto “Conta de novo a história da noite em que eu nasci” de Jamie-Lee Curtis.

Ainda não conhecia esta história e as colegas cursistas também não. A mesma despertou em nós o desejo de conversarmos com os nossos pais para conhecermos mais sobre o assunto. Além disso, possibilitou um momento de troca de experiências muito relevante. É uma ótima sugestão para ser trabalhada em sala de aula.
Ainda sobre variantes lingüísticas a professora passou o vídeo da charge: “Linguagem inadequada”. A partir do mesmo enfatizou que a língua é um sistema aberto, o que possibilita uma grande variedade de usos. Assim, ao lado de regras sistemáticas que todos os seus falantes devem seguir, aparecem as variantes da língua, que podem referir-se ao uso de um grupo, ou ao uso de cada locutor, no momento específico da interação.
Foi muito enfatizada a necessidade de criar, em sala de aula, oportunidades para que os alunos trabalhem textos que exemplifiquem diversas situações de comunicação, em que dialetos e registros diferentes – formais e informais -, considerando o objetivo maior do ensino da língua:
“DESENVOLVER NO SUJEITO A COMPETÊNCIA PARA A LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS.
É muito interessante também refletir sobre a norma culta, sendo esta um dialeto definido por critérios socioculturais. Como para todas as línguas, a norma culta é escolhida como norma-padrão, que é usada nos documentos, sobretudo os oficiais, em grande parte da literatura, dos escritos e falas da imprensa. Sua maior característica é a correção pautada na gramática normativa. No entanto, não é melhor nem pior, mais bonita ou mais feia do que qualquer outra norma/dialeto. Por outro lado, não é obrigatoriamente o espaço da língua escrita ou da literatura. Deveria, ser trabalhada na escola, como o dialeto que o aluno deve ir aos poucos dominando, por ser o mais adequado a certas situações de comunicação.
Achei este assunto tão interessante que elaborei um ensaio sobre o mesmo, que será postado assim que fizer os últimos ajustes.
Na seqüência das atividades, refletimos sobre os textos: “NÓIS MUDEMO” de Fidêncio Bogo, e “PECHADA” de Luis Fernando Veríssimo, comparando-os e relacionando-os com a prática de sala de aula. O debate foi emocionante e fez com que todas nós refletíssemos sobre a nossa prática pedagógica, sobre os nossos alunos.
“NÓIS MUDEMO”
(Fidêncio Bogo)
O ônibus da Transbrasiliana deslizava manso pela Belém-Brasília rumo a Porto Nacional. Era abril, mês das derradeiras chuvas. No céu, uma luazona enorme pra namorado nenhum botar defeito. Sob o luar generoso, o cerrado verdejante era um presépio, todo poesia e misticismo.Mas minha alma estava profundamente amargurada. O encontro daquela tarde, a visão daquele jovem marcado pelo sofrimento, precocemente envelhecido, a crua recordação de um episódio que parecia tão banal... Tentei dormir. Inútil. Meus olhos percorriam a paisagem enluarada, mas ela nada mais era para mim que o pano de fundo de um drama estúpido e trágico.
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As aulas tinham começado numa segunda-feira. Escola de periferia, classes heterogêneas, retardatários. Entre eles, uma criança crescida, quase um rapaz.- Por que você faltou esses dias todos?- É que nóis mudemo onti, fessora. Nóis veio da fazenda.Risadinhas da turma.- Não se diz “nóis mudemo”, menino! A gente deve dizer, nós mudamos, tá?- Tá, fessora!No recreio as chacotas dos colegas: “Oi, nóis mudemo! Até amanhã, nóis mudemo”!No dia seguinte, a mesma coisa: risadinhas, cochichos, gozações.- Pai, não vô mais pra escola!- Oxente! Módi quê?Ouvida a história, o Pai coçou a cabeça e disse?- Meu fio, num deixa a escola por uma bobagem dessa! Não liga pras gozações da mininada! Logo eles esquece.Não esqueceram.Na quarta-feira, dei pela falta do menino. Ele não apareceu no resto da semana, nem na segunda-feira seguinte. Aí me dei conta de que eu nem sabia o nome dele. Procurei no diário de classe e soube que se chamava Lúcio – Lúcio Rodrigues Barbosa. Achei o endereço. Longe, um dos últimos casebres do bairro. Fui lá, uma tarde. O rapazola tinha partido no dia anterior para a casa de um tio no sul do Pará.- É, professora, meu fio não agüentou as gozação das mininada. Eu tentei fazê ele continua, mas não teve jeito. Ele tava chatiado demais. Bosta de vida! Eu devia de tê ficado na fazenda côa famia. Na cidade nóis não tem veis. Nóis fala tudo errado.Inexperiente, confusa, sem saber o que dizer engoli em seco e me despedi.O episódio ocorrera há dezessete anos e tinha caído em total esquecimento, ao menos de minha parte.Uma tarde, num povoado à beira da Belém-Brasília, eu ia pegar o ônibus, quando alguém me chamou.Olhei e vi, acenando para mim, um rapaz pobremente vestido, magro, com aparência doentia.- O que é, moço?- A senhora não se lembra de mim, fessora?Olhei para ele, dei tratos à bola. Reconstituí num momento meus longos anos de sacerdócio, digo, de magistério. Tudo escuro.- Não me lembro não, moço. Você me conhece? De onde? Foi meu aluno? Como se chama?Para tantas perguntas, uma resposta lacônica:- Eu sou “Nóis mudemo”, lembra?Comecei a tremer.- Sim, moço. Agora me lembro. Como era mesmo o seu nome?- Lúcio – Lúcio Rodrigues Barbosa.- O que aconteceu com você?- O que aconteceu? Ah! Fessora! É mais fácil dizê o que não aconteceu. Comi o pão que o diabo amassô. E êta diabo bom de padaria! Fui garimpeiro, fui bóia fria, um “gato” me arrecadou e levou num caminhão pruma fazenda no meio da mata. Lá trabaiei como escravo. Passei fome, fui baleado quando consegui fugi. Peguei tudo quanto é doença. Até na cadeia já fui pará. Nóis ignorante às veis fais coisa sem querê fazê. A escola fais uma farta danada. Eu não devia de tê, saído daquele jeito, fessora, mas não agüentei as gozação da turma. Eu vi logo que nunca ia consegui falá direito. Ainda hoje eu não sei.- Meu Deus!Aquela revelação me virou do avesso. Foi demais para mim. Descontrolada, comecei a soluçar convulsivamente. Como eu podia ter sido tão burra e má? E abracei o rapaz, o que restava do rapaz, que me olhava atarantado.O ônibus buzinou com insistência.O rapaz afastou-me de si suavemente.- Chora não, fêssora! A senhora não tem culpa.Como? Eu não tenho culpa? Deus do céu!Entrei no ônibus apinhado. Cem olhos eram cem flechas vingadoras apontadas para mim. O ônibus partiu. Pensei na minha sala de aula. Eu era uma assassina a caminho da guilhotina.Hoje tenho raiva da gramática. Eu mudo, tu mudas, ele muda, nós mudamos, mudamos, mudaamoos, mudaaamooos... Super usada, mal usada, abusada, ela é uma guilhotina dentro da escola. A gramática faz gato e sapato da língua materna – a língua que a criança aprendeu com seus pais e irmãos e colegas – e se torna o terror dos alunos. Em vez de estimular e fazer crescer, comunicando, reprime e oprime, cobrando centenas de regrinhas estúpidas para aquela idade.E os Lúcios da vida, os milhares de Lúcios da periferia e do interior, barrados na sala de aula: “Não é assim que se diz, menino!” Como se o professor quisesse dizer: “Você está errado! Os seus pais estão errados! Seus irmãos e amigos e vizinhos estão errados! A certa sou eu! Imite-me! Copie-me! Fale como eu! Você não seja você! Renegue suas raízes! Diminua-se! Desfigure-se! Fique no seu lugar! Seja uma sombra!”.E siga desarmado para o matadouro da vida.
PECHADA
(Luis Fernando Verissimo)
O apelido foi instantâneo. No primeiro dia de aula, o aluno novo já estava sendo chamado de "Gaúcho". Porque era gaúcho. Recém-chegado do Rio Grande do Sul, com um sotaque carregado.
– Aí, Gaúcho!
– Fala, Gaúcho!
Perguntaram para a professora por que o Gaúcho falava diferente. A professora explicou que cada região tinha seu idioma, mas que as diferenças não eram tão grandes assim. Afinal, todos falavam português. Variava a pronúncia, mas a língua era uma só. E os alunos não achavam formidável que num país do tamanho do Brasil todos falassem a mesma língua, só com pequenas variações?
– Mas o Gaúcho fala "tu"! – disse o gordo Jorge, que era quem mais implicava com o novato.
– E fala certo - disse a professora.
– Pode-se dizer "tu" e pode-se dizer "você". Os dois estão certos. Os dois são português.
O gordo Jorge fez cara de quem não se entregara.
Um dia o Gaúcho chegou tarde na aula e explicou para a professora o que acontecera.
– O pai atravessou a sinaleira e pechou.
– O que?– O pai. Atravessou a sinaleira e pechou A professora sorriu.
Depois achou que não era caso para sorrir. Afinal, o pai do menino atravessara uma sinaleira e pechara. Podia estar, naquele momento, em algum hospital. Gravemente pechado. Com pedaços de sinaleira sendo retirados do seu corpo.
– O que foi que ele disse, tia?
– quis saber o gordo Jorge.
– Que o pai dele atravessou uma sinaleira e pechou.
– E o que é isso?
– Gaúcho... Quer dizer, Rodrigo: explique para a classe o que aconteceu.
– Nós vinha...
– Nós vínhamos.
– Nós vínhamos de auto, o pai não viu a sinaleira fechada, passou no vermelho e deu uma pechada noutro auto.
A professora varreu a classe com seu sorriso. Estava claro o que acontecera? Ao mesmo tempo, procurava uma tradução para o relato do gaúcho. Não podia admitir que não o entendera. Não com o gordo Jorge rindo daquele jeito. "Sinaleira", obviamente, era sinal, semáforo. "Auto" era automóvel, carro. Mas "pechar" o que era? Bater, claro. Mas de onde viera aquela estranha palavra? Só muitos dias depois a professora descobriu que "pechar" vinha do espanhol e queria dizer bater com o peito, e até lá teve que se esforçar para convencer o gordo Jorge de que era mesmo brasileiro o que falava o novato. Que já ganhara outro apelido: Pechada.
– Aí, Pechada!
É muito interessante observar que o texto literário caracteriza-se como aquele que apresenta liberdade completa no uso das variantes da língua. O autor pode empregar a norma culta ou o dialeto popular, o registro mais formal ao mais informal, tudo vai depender de suas intenções, do assunto, do ambiente e dos personagens retratados. Cada texto literário é que vai criando os limites e a adequação de cada escolha do autor.
Divertimos-nos com a crônica “Sexa” de Luis F. Veríssimo, mas também refletimos sobre os aspectos literários e lingüísticos do texto.
SEXA
– Pai...
– Hmmm?
– Como é o feminino de sexo?
– O quê?
– O feminino de sexo.
– Não tem.
– Sexo não tem feminino?
– Não.
– Só tem sexo masculino?
– É. Quer dizer, não. Existem dois sexos. Masculino e feminino.
– E como é o feminino de sexo?
– Não tem feminino. Sexo é sempre masculino.
– Mas tu mesmo disse que tem sexo masculino e feminino.
– O sexo pode ser masculino ou feminino. A palavra “sexo” é masculina. O sexo masculino, o sexo feminino.
– Não devia ser “a sexa”?
– Não.
– Por que não?
– Porque não! Desculpe. Porque não. “Sexo” é sempre masculino.
– O sexo da mulher é masculino?
– É. Não! O sexo da mulher é feminino.
- E como é o feminino?
– Sexo mesmo. Igual ao do homem.
– O sexo da mulher é igual ao do homem?
– É. Quer dizer...Olha aqui. Tem sexo masculino e sexo feminino, certo?
– Certo. São duas coisas diferentes.
– Então como é o feminino de sexo?
– É igual ao masculino.
– Mas não são diferentes?
– Não. Ou são! Mas a palavra é a mesma. Muda o sexo, mas não muda a palavra.
– Mas então não muda o sexo. É sempre masculino.
– A palavra sexo é masculina.
– Não. “ A palavra” é feminina. Se fosse masculina seria “o pal...
– Chega! Vai brincar, vai.
O garoto sai e a mãe entra. O pai comenta:
– Temos que ficar de olho nesse guri...
– Por quê?
- Ele só pensa em gramática!

O debate girou em torno das seguitnes questões, apresentadas pela professora formadora:
1)É um texto literário? Comente.
2) Qual é a imprevisibilidade da fala final do pai e que reforça o humor do texto?
3) A hipótese do menino para criar o feminino da palavra “sexo” tem lógica? Dê exemplos que confirmem sua posição.
4) Veja a palavra “sexo” no dicionário. Você acha que para o pai e para o menino a palavra tem sempre o mesmo sentido e as mesmas conotações?
5) Em que trechos você percebe a impaciência do pai?
6) Nem toda crônica é uma narrativa. Esta é: temos aí uma seqüência de fatos que constituem uma história, envolvendo personagens, organizada de determinada forma e contada por um narrador, que aqui aparece muito pouco.
7) Onde aparece o narrador ?
8) O discurso direto (as próprias personagens tomando a palavra) lhe pareceu um bom expediente? Por quê?
Após o estudo da crônica, fizemos os relatos dos avançando na prática, os quais são sempre muito significativos, pois nos possibilitam compartilhar experiências.
Continuando o nosso trabalho realizamos o estudo da crônica: “A outra Senhora” de Carlos Drummond de Andrade. (TP1 p.169), depois socializamos as questões.
Nesta oficina, conversamos ainda sobre o andamento do Projeto, que já foi elaborado em oficinas anteriores e está sendo colocado em prática em nossas escolas.
Para finalizar o turno da tarde a professora nos passou o vídeo: “Despedida de uma vogal”.
Fizemos um intervalo para descansarmos um pouco, lancharmos e voltarmos à noite para “gestar” novamente.


À noite...
À noite do dia 23/10/09, realizamos a 12ª oficina do Gestar. O encontro foi iniciado com o vídeo “Aquarela do Brasil”.
A partir do vídeo retomamos os conceitos dos gêneros e tipos textuais e debatemos sobre a intertextualidade.

Todas as nossas interações se processam por meio de textos. Desta forma, a análise lingüística só pode ser significativa para os alunos, se apoiada em textos que contextualizam cada uso do vocabulário e da morfossintaxe.
Refletimos sobre a seguinte questão:
Será que está bem claro que é o texto que nos faz pensar, divertir, que, enfim, enriquece nossas experiências e nos coloca no centro da vida?

Imagine a seguinte situação:
A - Dois bancos abriram uma linha de crédito à qual você se candidatou. Um mês depois, houve um comunicado no jornal de um dos bancos avisando aos candidatos que o crédito tinha sido suspenso. O outro lhe enviou uma carta comunicando a suspensão temporária e pedindo desculpas pela mudança ocorrida. Qual foi sua reação, quer dizer, sua leitura do comportamento do banco, num caso e noutro? O procedimento usado por eles alteraria sua relação com os bancos?
B – Você é mulher e recebe em casa, no seu aniversário, dois arranjos de flores, com cartões. Um está escrito a máquina, o outro está manuscrito e cheio de desenhos (simplesinhos, “sem arte” ). Como você reage aos dois cartões?
No caso dos bancos, se você é cliente milionário(a), o do aviso no jornal pode ter perdido uma conta alta. No caso dos buquês de flores, se você oscilava entre dois amores, o bilhete pode definir a escolha do namorado, ou marido. Isso não é, definitivamente, irrelevante… Isso significa que o locutor, mesmo sem querer, dá indicações de como pretende que seu texto seja lido. Em outras palavras, o locutor sempre tenta estabelecer com seu interlocutor um “pacto de leitura”: de antemão, dá informações do que se pode esperar do texto. O interlocutor, também com maior ou menor clareza, percebe essas “dicas” passadas pelo texto. E o lê ou não, ou o lê de determinado modo, de acordo com seu interesse.
Assistimos o vídeo “O caderno”, a partir do qual debatemos sobre o que é a intertextualidade.
A intertextualidade refere-se à presença, subjacente ao nosso texto, de outras vozes e outros textos, com os quais dialogamos o tempo todo, mesmo sem ter consciência disso. Apesar de ser enfocada, sobretudo, nas artes e ser um estudo relativamente recente, a intertextualidade sempre esteve presente em todas as interações humanas.

Os processos intertextuais são muito variados e nem sempre fáceis de classificar. No entanto, pela freqüência e algumas características mais constantes, podemos enumerar como formas mais visíveis de intertextualidade: a paráfrase, a paródia, O pastiche, a citação, a epígrafe, a alusão e a referência.
A originalidade dos processos intertextuais deve-se muito ao ponto de vista , questão das mais importantes em qualquer forma de interação. O ponto de vista é o lugar ou o ângulo de onde cada interlocutor participa do processo de interação. Ele não revela simplesmente as posições do locutor: pode ser usado para criar posições e emoções no interlocutor. Daí a importância de sua análise, quando estamos interpretando e avaliando as situações de comunicação. O trabalho com esses dois assuntos é fundamental, no sentido de tornar nossos olhos e ouvidos mais sensíveis e mais críticos com relação à própria vida.
Em grupos, revimos alguns conceitos que se referem à intertextualidade e socializamos com as colegas.
Processos intertextuais que envolvem o texto inteiro:
a) paráfrase: acompanha de perto o texto original, como ocorre nos resumos, adaptações e traduções;
b) paródia: inverte ou modifica a narrativa, sua lógica, sua idéia central. Em geral, é crítica;
c) pastiche: procura aproveitar a estrutura, o clima, determinados recursos de uma obra.
2 – Os processos intertextuais pontuais, que retomam um ou alguns elementos do texto:
a)citação: consiste em apresentar um trecho, um dado da obra. O segundo texto procura deixar claro o texto original. No caso do texto verbal, o autor do original é indicado;
b) epígrafe: tem as mesmas características da citação, mas tem localização fixa: aparece sempre como abertura do segundo texto;
c) referência: é a lembrança de passagem ou personagem de outro texto;
d) alusão: é o aproveitamente de um dado de um texto, sem indicações ou explicitações.
Em seguida fizemos mais uma atividade do AAA1- versão professor e lemos o texto “UMA SEMANA E VÁRIOS PONTOS DE VISTA”, que faz parte da propaganda da revista Época, e foi criado pela agênciaW/Brasil. O publicitário imagina o ponto de vista que vários seres teriam sobre o significado de uma semana.
Para um preso, menos 7 dias
Para um doente, mais 7 dias
Para os felizes, 7 motivos
Para os tristes, 7 remédios
Para os ricos, 7 jantares
Para os pobres, 7 fomes
Para a esperança, 7 novas manhãs
Para a insônia, 7 longas noites
Para os sozinhos, 7 chances
Para os ausentes, 7 culpas
Para um cachorro, 49 dias
Para uma mosca, 7 gerações
Para os empresários, 25% do mês
Para os economistas, 0,019 do ano
Para o pessimista, 7 riscos
Para o otimista, 7 oportunidades
Para a Terra, 7 voltas
Para o pescador, 7 partidas
Para cumprir o prazo, pouco
Para criar o mundo, o suficiente
Para uma gripe, a cura
Para uma rosa, a morte
Para a História, nada
Para a Época, tudo.
CURIOSIDADE: O texto afirma que, para uma mosca, são sete gerações porque determinadas espécies desse inseto nascem, tornam-se adultas, reproduzem-se e morrem em apenas um dia. Em uma semana, nascem 7 gerações.
Para mim, “Uma semana representa 7 novas oportunidades de ser feliz, trabalhar e fazer os outros felizes...”

Realizamos os relatos dos avançando na prática – unidades 3 e 4 do TP1.
Após realizamos a atividade parte III, p. 172 sobre o texto: “A língua”, fomos desafiadas a elaborar uma proposta de leitura e de produção textual.
Plano de atividade de leitura e produção textual.
1. Leitura silenciosa do texto.
2. Leitura dramatizada.
3. Comentários sobre as diferentes possibilidades de usos da língua.
4. Produção de um texto narrativo ou poético falando sobre o emprego da língua apresentando alguns elementos que retratem a intertextualidade com o texto lido.
Ao término do trabalho, recebemos as orientações para o próximo encontro e assistimos o vídeo “Tudo passa” como mensagem final.
Essas duas oficinas foram maravilhosas!
É sempre um grande prazer trabalhar com atividades que envolvem a língua portuguesa e a professora formadora pensou-as e orientou-as com muito carinho e competência, a partir do material proposto pelo Gestar.

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